quinta-feira, 5 de julho de 2012




Sempre me questionei sobre que me pensamentos invadem a mente daqueles que decidem pôr fim à vida.
O pensamento não surgiu apenas uma ou duas vezes ao longo da minha existência, surgiu sim, em cada doloroso segundo que me obrigaram a viver. No íntimo do meu ser, não podia esconder a ideia de que se trata de um ato de cobardia, mas, agora, no cimo do arranha céus mais alto de Nova Iorque, apercebo-me de que se trata de coragem. Coragem pura. Coragem de avançar com uma ideia que nos atormenta. De procura. Uma procura intensa da liberdade que tanto precisamos e que ninguém é capaz de nos dar. De luta. Uma luta constante por alguém que se aperceba de algo tão simples como a própria existência. De fome. Uma fome insaciável por alguém que ouça os gritos que o nosso coração dá.
Nunca pensei no momento em si, no momento em que me soltaria de toda a dor, mas agora, que sinto o travo da liberdade tão perto, nunca nada me pareceu tão certo. Eu sei que é o melhor a fazer. Eu sei que a minha existência não tem qualquer propósito. Eu sei que fui um erro. Talvez um ensaio para alguém. Alguém algo que mereça algo tão complexo que é a vida. Eu sei que ninguém sentirá verdadeiramente a minha falta. Talvez porque nunca ninguém reparou verdadeiramente em mim.
Por que o farei? Porque, certamente, doirá menos que tudo o resto.
Aproximo-me mais da berma, e, então, vejo-te. Vejo-te a ti, num rosto irado em contraste com os teus olhos inócuos cor de mar. Em 16 anos, foste a única coisa que me manteve aqui. Que me prendeu. Que me deu alguma esperança de me encontrar. Mas também tu deixaste de me ver, e a ínfima esperança existente desvaneceu-se, assim como a tua compaixão por mim. Chamei-te tantas vezes e nem para trás olhaste. Sofri em silêncio, e nem uma lágrima me limpaste. Apesar de tudo, não te culpo pelo céu que não conseguiste colorir. Tentaste. Mas este sempre fora cinzento por natureza. Apesar de tudo, obrigada por teres sido a minha única confidente, mesmo que por tempo limitado. Mesmo que fosse essa a tua função de mãe. Desculpa que a má sorte te tenha obrigado a ficar com alguém tão pernicioso como eu. Alguém que causa dano num simples respirar. Que é o dano em si.
E agora, dando um passo em frente, caminho rumo ao desconhecido, esticando os braços no percurso, e, inspirando uma golfada de ar puro, o vazio da minha alma preenche-se.
E agora, finalmente, sinto que pertenço. E agora, sinto-me em casa.

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