quarta-feira, 4 de julho de 2012




Um raio de sol atingiu-me o rosto e tentei, em vão, ignorar a chegada de um novo dia.
Num simples erguer, a dor no peito chegou, juntamente com o peso na alma. Aquele peso que me comanda e sussurra. Aquele vazio no âmago, aquele cheiro a fracasso.
Não queria enfrentar mais um amanhecer. Não queria, em tão tenra idade, ter de lutar pela minha própria sobrevivência, já que ninguém o fazia por mim. Não queria temer uma simples brisa, quando o meu respirar parecia já tão assustador. Mas, apesar dos meus esforços para que o dia se voltasse a pôr, um raio de sol mais forte manifestou-se, e soube que nada mudara.
E então, apercebi-me de que teria, mais um dia como em tantos outros, enfrentar a batalha mais dolorosa da minha existência – ir para a escola. Sim, aquele lugar que deveria ser o meu porto de abrigo, aquele lugar que me deveria enriquecer, esmagava-me até não restar mais nada.
“Porquê eu?”, era a pergunta que mais se soltava da minha boca, e para a qual nunca encontrei resposta. Nunca entendi o porquê de tais olhos irados só me verem a mim.  A mim, apenas mais um ser no meio de centenas. Eu era, inquestionavelmente, diferente dos demais, talvez mais frágil. Eu era, sem sombra de dúvida, a presa mais fácil de apanhar num simples recreio de escola – o pior campo de batalha que alguma vez enfrentarei. E, apesar de tantos anos, apesar de tantas mudanças em mim, nunca entendi o que os atraía em mim, como um íman.
Podia fugir, mas não me podia esconder, e era esta derradeira verdade que me fazia, agora, seguir a rotina habitual. Inerte no chão, mais um dia, o meu corpo de rapaz de apenas 16 anos fervia. Acho que, ao longo dos tempos, me tornei imune à dor física, e, portanto, cada soco que aquele rufia projetava atingia-me diretamente na alma, até porque fisicamente já pouco restava.
Porém, pela primeria vez, vi a minha marca, aquela que me diferenciava dos demais e que tanto os incomodava. Era o meu coração. O meu coração puro, mesmo que por vezes desnorteado, que apesar de carregar o peso do mundo, mantinha na íntegra quem o destino traçara que fosse. Era o meu cheiro. O meu cheiro a inocência e a ingenuidade. Era o meu medo. O meu medo de falhar que tanto os aliciava. Era a minha sede. A minha sede de viver, aquele erguer diário, mesmo que com a sina traçada.
“Bullying”, a palavra que muitos ouvem, mas que poucos de facto conhecem.
“Bullying”, uma dor na alma que nos faz questionar a nossa própria existência.
“Bullying”, um coração que se parte.
“Bullying”, uma alma que se perde.
Queria soltar-me, mas eles são três vezes maiores. Queria fazer-lhes frente, mas apenas tenho forças para continuar a respirar. Queria voar livremente, mas para onde quer que fosse, encontrariam o meu ninho.
Quero vingar-me, mas o medo atormenta-me. Quero denunciar-vos, mas toda a dor tem limites. Quero gritar, mas não encontro a minha própria voz.
E, sozinho, aguardo pelo dia em que tudo pare. Aguardo por algo que o faça parar. Alguém.
E, agora, fecho os olhos, aguardando por mais um dia. Pelo dia. O dia em que tudo mude.

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