22 de Maio de 2012
Mana,
Demorei muito tempo até me decidir se deveria ou não avançar com esta ideia insana de te escrever esta carta, uma vez que nunca a poderás ler. É macabro. Mórbido. Doentio até. Mas preciso de me despedir de uma vez por todas, deixar-te ir. Preciso de expulsar todos os pesadelos que me atormentam diariamente, noite após noite. Cada vez que fecho os olhos vejo o teu rosto ofegante, já quase sem vida, com olhos suplicantes por ajuda. Já quase sem cor. E eu nada fiz. Nao mexi um músculo para te tirar da água que arrastava a tua vida. Não corri ao teu encontro, nao lutei contra a corrente. Apenas gritei, sem dar por isso. Gritei o teu nome numa voz estridente que nao conhecia. E quando deixei de ver o te corpo tão pequenino a ser arrastado pelas ondas fortes, os meus joelhos embateram ruidosamente na rocha molhada pela água que te arrancou a vida.
A multidão juntou-se. A tua alma partiu. Os corações quebraram-se. A saudade instalou-se. Os pesadelos atormentaram. Pesadelos em que apareces sob a forma de náufrago: sozinha como te deixei, à deriva como tu me deixaste. Tudo isto por culpa minha, que não tentei salvar-te. Culpa minha, que te convenci a ir até à praia. Por culpa minha que não saltei para perecer contigo, tal como merecias. Tal como eu merecia.
Mas princesa, não te esqueço. Não te esqueço nunca, porque me corres nas veias. Não esqueço a melodia do teu suspirar ou riso doce. Não te esqueço porque sinto as batidas do teu coração ao de leve, trazidas pela brisa. Não te esqueço porque te vejo lá fora, a abraçar a tempestade, porque vejo o brilho dos teus olhos na lua, a olhar por nós. Porque te ouço trautear uma canção de embalar aos pássaros, adormecer com eles. Porque me tiras o sono, e porque a minha alma pertence agora à tua ausência.
Um dia, encontrar-te-ei para te pedir perdão.Um dia, voltarei a enrolar o meu dedo nos teus cabelos para te prender a mim, para sempre. Um dia, quando a culpa parar de me atormentar, voltarei a sorrir, porque a tua alma voltou. Um dia, sorriremos juntas de novo.
Um dia, encontrar-te-ei para te pedir perdão.Um dia, voltarei a enrolar o meu dedo nos teus cabelos para te prender a mim, para sempre. Um dia, quando a culpa parar de me atormentar, voltarei a sorrir, porque a tua alma voltou. Um dia, sorriremos juntas de novo.
Por agora, vislumbro as estrelas e no seu brilho vejo o ser: sempre belo, sempre presente, até à eternidade.
Até um dia. Até ao dia,
Até um dia. Até ao dia,
Rosie
Sem comentários:
Enviar um comentário