Quero sucumbir
o meu corpo à verdade e guiá-lo para o que me faz bem. Despertá-lo de vez. É
sádico amar-te. É sádica a necessidade de te ter em mim, de corpo e mente. É
masoquista não resistir à insanidade do meu centro. Doentio. Amo-te, mas
amar-te corrói-me. Quero libertar-me desse amor que me condena.
Odeio cada
pedaço da tua falta de vida, bem como cada atitude e pensamento teu. Odeio o
teu respirar, e a tua presença repulsa-me tanto quanto atrai. E é esse ódio que
me faz amar-te, é esse ódio que me impede de te largar. O ódio que me leva a
amar e me impede de voar sem ti. É o ódio que me impede de desistir de nós. É o
ódio que nos liga. Amar-te-ei ou quererei amar-te? Não és o melhor de mim, não
és o que de melhor tenho, alcancei ou vivi. Não te sacrificas por mim. Não
mudas por nós. Não és perfeito, nem à minha medida, tão simples e fácil de
alcançar. Repugna-me a forma como a tua personalidade se moldou, tornando-te em
alguém que me passaria ao lado, alguém que agora não reconheço e com o qual não
me quereria relacionar. Alguém transparente. Não gosto do que és, mas do que
aparentas ser. Então o que faço eu junto do teu ser frio e mudado? Fico por ti.
Que necessidade é esta de ti? O que resta de ti para amar que ainda não
descobri, mas que o teu corpo já cativou no meu? Vivo para ti. Prescindo da
felicidade pura para seguir o coração. Por ti. Encontrá-la-ia seguindo o que de
mais perfeito me permito ver? O coração chama-me, queima-me, enquanto a razão
se opõe – louca, furiosa, vagabunda. A razão morre, a dor fica, a felicidade
chora. E eu aqui permaneço. Entregue à quimera de que és tu que me moves,
enquanto paras cada segundo do tempo que me consomes. Amo-te tanto quanto
odeio. É isto amar?