Perco-me na escuridão que mancha
o ar e deixo que esta me tinja a mente. Paro. Observo. Escuto. Mico cada um dos
vossos traços ocupados, ausentes. Decoro cada um dos vossos rostos carregados,
atormentados. Deixo-me invadir pelas vossas palavras programadas, emoções
disfarçadas, encriptadas. Sentimentos tão reais, perdidos na irrealidade do
medo da espontaneidade. Reconheço a sombra que tanto tentam fintar e que vos
persegue, passo a passo. A escuridão que todos escondem, mas que tanto vos
consome. A escuridão que tanto receiam nas que rapidamente vos encontra, vos
toma como sua. É o medo, só o medo. Um medo pernicioso. O medo de vocês
próprios. O pior dos medos. O medo de falhar perante a vossa própria
expetativa. O medo de errar perante a vossa própria razão. O medo de fracassar
perante as vossas próprias batalhas. O medo de se trairem a vocês mesmos. Vivem
atormentados pela nostalgia de memórias passadas, pelas quais davam a vida para
reaver. Vivem o presente com o coração no passado. Vivem aterrorizados pela
criatividade que um novo dia oferece. O horros face à turbulência de emoções
impede-vos de viver. Não vivem, sobrevivem. Carregados de vazio. Sobrevivem
refugiados na melancolia do que outrora foram ou do que receiam nunca vir a
ser. Sobrevivem refugiados na esperança de que esse céu cinzento assuma cores
de um tom azul vivo, não percebendo que cada lápis de cor se encontra na mão de
quem o quiser colorir. Deixamos de procurar monstros debaixo da cama quando nos
apercebemos de que estão dentro de nós.
Fecho os olhos. Respiro fundo.
Caminho. Não sou diferente de nenhum de vocês, mas eu já descobri o meu
monstro.
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