Muda. Muda se aquilo que és te
dilacera por dentro, te destrói, te magoa. Muda para te agradares a ti mesma, o
teu pior juiz. Muda se toda a tua felicidade exterior for uma quimera, uma
utopia de plenitude e vida. Muda se precisas de um motivo para permanecer aqui.
Muda se quem és te faz querer desaparecer. Finge. Finge que acreditas que não
há nada de errado dentro de ti, mesmo quando um vazio enorme te preenche o
peito de amargura. Desdém de ti. Finge que adoras o mundo que te rodeia. Finge
que és genuína contigo, mesmo em batalha contra ti. Esconde. Esconde cada
lágrima que te nasce no olho. Esconde cada sinal de que és humana e fraca.
Esconde o que sentes, se sentir não basta. Se o sentimento que conduz ao fundo
do abismo, dentro de ti mesma. Se cada respirar teu te causa repulsa. Enfrenta.
Enfrenta a turbulência de emoções que te constitui, todos os pensamentos
mórbidos. Enfrenta o que não és, ou o que desejavas não ser. Enfrenta o que
desperta todo o pedaço de nada que te constitui. A insignificância de ser
humano que és.
E se porventura te odeias,
mudasses. Se porventura o peso do mundo te assentou nos ombros, fingisses. Se
porventura alguém penetrou na escuridão da tua mente, escondesses. Se
porventura te espezinharam, enfrentasses.
Neve. Não sou mais do que neve.
Desfeita a qualquer momento.
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